A carta de Smith: sua história e por que é tão importante para projetistas de RF

Os projetistas novatos ao fazer projetos de RF e tentar conectar direto dois componentes — por exemplo, um oscilador controlador por tensão (VCO) a um misturador — terão, sem dúvida, que se depararem com gráficos circulares estranhos nas fichas técnicas, como estes do MAX2472 Maxim Integrated, um buffer amplificador do VCO de 500 a 2500 megahertz (MHz) (Figura 1). Estes gráficos, chamados de cartas de Smith, são muito diferentes de qualquer coisa visto nas aulas de álgebra e estatística, sem dúvida disso.

Figura 1: Muitas fichas técnicas dos componentes RF incluem cartas de Smith mostrando os valores dos parâmetros principais em frequências de operação diferentes, como neste buffer amplificador MAX2472 Maxim do VCO a 600, 900, 1900 e 2400 MHz. (Fonte da imagem: Maxim Integrated)

A carta é em homenagem a Phillip Smith, um engenheiro da Bell Telephone Laboratories, quem inventou e refinou isso entre 1936 e 1939, enquanto trabalhava para compreender as linhas de transmissão e ondas estacionárias no que era considerado “altas frequências” de até 1 MHz (naquela época, chamadas de megaciclos por segundo). Este gráfico circular de aparência estranha se tornou a única ferramenta mais poderosa e útil para trabalhar e otimizar circuitos de alta frequência, com respeito às impedâncias de entrada e saída, mesmo em nossa época de computadores poderosos e ferramentas de projeto assistido por computador (CAD).

Entre as muitas utilidades, a carta de Smith fornece uma maneira eficiente de visualizar opções de projeto, quando tentar casar impedâncias entre estágios de fonte e carga, uma consideração muito importante em muitos circuitos, especialmente em projetos de RF. Há dois motivos para este casamento ser crítico:

• Primeiro, para efetuar a transferência de potência máxima desde uma fonte até uma carga, a impedância complexa da fonte RS + jXS deve ser igual ao conjugado complexo RL - jXL da impedância da carga:

Onde R é a parte resistiva (real) da impedância e X é a parte reativa (indutiva ou capacitiva) (Figura 2).

Figura 2: O maior desafio em projetos de RF e linha de transmissão é garantir que a fonte “enxergue” uma impedância de carga, que é o conjugado complexo da impedância da fonte, mesmo se aquela impedância de carga não estiver lá. (Fonte da imagem: HandsOnRF.com)

  • Segundo, ainda que tal perda de potência não seja uma preocupação (embora isso quase sempre é), o casamento de impedância é necessário para minimizar a reflexão da energia da carga de volta para a fonte, o que pode danificar o circuito de saída da fonte.

O que a carta de Smith mostra

A carta de Smith é um diagrama polar do coeficiente de reflexão complexo (também chamado de gama e simbolizado por Γ). Ela consegue exibir o que pode parecer, num primeiro momento, uma tarefa quase impossível: pôr juntas em um gráfico a parte real e imaginária de uma impedância complexa, onde a parte real R pode variar de 0 a infinito (∞) e a parte imaginária X pode dispersar de menos infinito a mais infinito — e faz tudo isso sobre uma única folha de papel.

Uma carta de Smith simplificada, mostrando os círculos de resistência constante e os arcos da reatância constante, é um bom ponto de partida para entender este arranjo (Figura 3). Como uma vantagem adicional, a carta também fornece uma maneira de mostrar os parâmetros de espalhamento (parâmetros S) e como estes valores se relacionam com as considerações e medições reais do circuito.

Figura 3: A carta de Smith mostra (a) círculos de resistência constante e (b) arcos de reatância constante que são mesclados e sobrepostos em (c) para fornecer uma perspectiva através de todas as possibilidades de impedâncias. (Fonte da imagem: ARRL.org)

Assim que estes valores complexos de impedância são marcados na carta de Smith, a carta pode ser usada para identificar muitos parâmetros que são críticos para compreender o caminho do sinal RF ou a situação da linha de transmissão, incluindo:

  • Coeficientes de reflexão da corrente e tensão complexos.
  • Coeficientes de transmissão da corrente e tensão complexos.
  • Coeficientes de reflexão e transmissão da potência.
  • Perda de reflexão.
  • Perda de retorno.
  • Fator de perda da onda estacionária.
  • Corrente e tensão máxima e mínima, bem como a relação de onda estacionária (SWR).
  • A distribuição de fase, posição e formato junto com a onda estacionária de tensão e corrente.

Mas isso é apenas uma parte do poder da carta de Smith. Além de ser útil e muitas vezes necessária para os projetistas saberem os parâmetros acima, a carta de Smith pode orientar a análise e decisões de projeto, incluindo:

  • Exibir as impedâncias complexas versus frequência.
  • Exibir os parâmetros S de uma rede versus frequência.
  • Avaliar a reatância de entrada ou susceptância de ramificações abertas ou curto-circuitadas.
  • Avaliar os efeitos das impedâncias shunt e em série sobre a impedância de uma linha de transmissão.
  • Para exibir e avaliar as características da impedância de entrada de ramificações ressonantes e anti-ressonantes, incluindo a largura de banda e fator de qualidade Q.
  • Para projetar redes de casamento de impedância, usando uma ou várias ramificações abertas ou curto-circuitas, seções da linha de um quarto de onda e componentes LC concentrados.

As vantagens da carta de Smith

À primeira vista, a carta de Smith padrão totalmente detalhada pode parecer com uma confusão de linhas quase incompreensíveis indo em todas as direções (Figura 4), mas isto é de fato apenas uma reprodução mais detalhada de resolução maior da carta simplificada mostrada anteriormente. Você pode baixar uma versão para impressão da carta de Smith a partir dos recursos no Manual de inovação da DigiKey on-line.

Figura 4: Uma carta de Smith típica pode parecer imponente, mas é apenas uma reprodução mais detalhada de resolução maior da carta simplificada mostrada anteriormente. (Fonte da imagem: DigiKey)

A carta de Smith mostra mais do que apenas uma solução única para muitos problemas relacionados aos projetos: ela mostra as muitas soluções possíveis. Os projetistas podem decidir então qual delas oferece um conjunto adequado dos valores de componentes para a situação específica, por exemplo os valores práticos para indutores e capacitores num casamento de impedância. Em muitos casos, as escalas numéricas da carta estão “normalizadas” para sistemas de 50 ohms (Ω), pois esta é a impedância mais comum usada em projetos RF.

A carta de Smith é tão importante e útil que muitos instrumentos de teste para aplicações de RF e microondas, como analisadores de rede vetorial (VNAs), podem traçar e exibir isto. Por exemplo, o VNA T3VNA Teledyne LeCroy oferece tal modo (Figura 5).

Figura 5: O analisador de rede vetorial T3VNA pode exibir dados adquiridos no formato da carta de Smith. (Fonte da imagem: Teledyne LeCroy)

O quão difícil é aprender a usar a carta de Smith? Como na maioria das perguntas, é a mesma coisa quando os alunos diferentes perguntam como se sente a respeito das dificuldades da teoria de cálculo ou campo eletromagnético: isso depende. Existem muitos textos on-line e tutoriais de vídeo que começam com os fundamentos da carta de Smith, depois acrescentam equações de linha de transmissão e perspectivas analíticas. Eles também mostram exemplos numéricos ao usá-la. Claro, há também programas e aplicativos para traçar, estruturar o problema e avaliar opções facilmente usando a carta de Smith. No entanto, isto ajuda a entender primeiro os fundamentos da carta antes de recorrer a eles.

Conclusão

É surpreendente que uma ferramenta gráfica desenvolvida há mais de 80 anos, antes que existissem projetos de RF como conhecemos agora, é ainda um dos recursos principais para desafios de projetos RF, seja em papel ou baseados em software. Seja qual for a maneira utilizada, a carta de Smith é uma poderosa ferramenta para exibição e acesso aos parâmetros de RF, além de obter ideias às alternativas de projeto e suas compensações associadas. A melhor maneira de aprender sobre o poder da carta de Smith e o que ela pode fazer por você, é usá-la e trabalhar através de alguns dos muitos exemplos publicados.

Leitura recomendada

1 – “A carta de Smith: uma ferramenta gráfica ‘antiga’ ainda vital em projetos de RF”

https://www.digikey.com/en/articles/the-smith-chart-an-ancient-graphical-tool-still-vital-in-rf-design

2 – “Os filtros SAW resgatam os produtos sem fio das implementações discretas impraticáveis”

https://www.digikey.com/en/articles/saw-filters-rescue-wireless-products-from-impractical-discrete-implementations

3 – “Compreendendo o básico dos amplificadores de potência e de baixo ruído em projetos sem fio”

https://www.digikey.com/en/articles/understanding-the-basics-of-low-noise-and-power-amplifiers-in-wireless-designs

4 – “Use amplificadores logarítmicos para melhorar a sensibilidade e desempenho nas ligações ópticas e de RF com ampla faixa dinâmica”

https://www.digikey.com/en/articles/use-log-amps-to-enhance-sensitivity-logarithmic-amplifiers

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Bill Schweber is an electronics engineer who has written three textbooks on electronic communications systems, as well as hundreds of technical articles, opinion columns, and product features. In past roles, he worked as a technical web-site manager for multiple topic-specific sites for EE Times, as well as both the Executive Editor and Analog Editor at EDN.

At Analog Devices, Inc. (a leading vendor of analog and mixed-signal ICs), Bill was in marketing communications (public relations); as a result, he has been on both sides of the technical PR function, presenting company products, stories, and messages to the media and also as the recipient of these.

Prior to the MarCom role at Analog, Bill was associate editor of their respected technical journal, and also worked in their product marketing and applications engineering groups. Before those roles, Bill was at Instron Corp., doing hands-on analog- and power-circuit design and systems integration for materials-testing machine controls.

He has an MSEE (Univ. of Mass) and BSEE (Columbia Univ.), is a Registered Professional Engineer, and holds an Advanced Class amateur radio license. Bill has also planned, written, and presented on-line courses on a variety of engineering topics, including MOSFET basics, ADC selection, and driving LEDs.

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